Em meio a pandemia, empresas do Distrito retomam atividades
Manaus – Enquanto a curva da pandemia da Covid-19, em Manaus, segue com aceleração descontrolada, com quase 2.500 casos de contaminação confirmados, pelo menos 23 empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM), seguem com o planejamento de retornarem às atividades produtivas. Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), dez planejam retorno no fim de abril e outras 13, em maio. As datas informadas coincidem com o período de pico da pandemia, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).
Os números informados pela Fieam fazem parte de uma pesquisa realizada pela entidade, que não disse quais empresas participaram do questionário, mas sinalizou que, dentre elas, estão as principais do setor de duas rotas, eletrônicos e relojoaria. Companhias como Samsung, Gree (de ar-condicionado) e Transire já retornaram com as atividades.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Material Plástico de Manaus e do Amazonas (Sindplast), Francisco Brito, disse que a categoria já enterrou colegas de profissão por conta da Covid-19. “A maior parte das empresas de produção com material plástico estão funcionando com horário reduzido, mas nenhuma parada. Já morreram trabalhadores de pelo menos três empresas da categoria e essas pessoas estavam trabalhando”, afirmou o presidente.Leia mais
Brito contou ainda que um dos diretores do Sindplast está internado em um hospital particular de Manaus, em estado grave. “A empresa que ele trabalha também não parou. Ontem [terça, 21 de abril] achávamos que ele ia morrer, porque estava muito ruim mesmo. Hoje estamos aguardando o boletim o médico para saber o que nos aguarda”, disse.
O sindicalista afirmou que é contra a retomada das atividades produtivas das empresas do Polo Industrial de Manaus. Segundo ele, o Sindplast já foi comunicado que há 40 trabalhadores infectados e outras quatro mortes na categoria de material plástico.
Francisco disse que trabalhadores tem se queixado de aglomerações que ainda existem nas empresas, mesmo com as medidas de contingência. Segundo as reclamações, os refeitórios têm sido lugares de grandes aglomerações, e onde as pessoas costumam retirar as máscaras que utilizavam, para que possam comer. Outros pontos são o transporte de rota e banheiros das empresas.
“O que nós estamos vendo e o que ouvimos dos especialistas é que quanto mais aglomeração, mais é a contaminação pela doença. E temos estudos que mostram que o pico da doença no Amazonas vai até, pelo menos, 15 de maio”, comenta ele.
Poucas pararam
Na pesquisa da Fieam, das 23 companhias entrevistadas, apenas oito pararam 100%. As outras tiveram alteração parcial da produção. Seis delas paralisaram de 50 a 75%; cinco interromperam de 25% a 50%; uma informou que houve paralisação de 25%; e três continuaram normalmente.
A Samsung, que tem cerca de cinco mil funcionários, ficou parada do dia 24 de março ao dia 13 de abril. Nesta última data, a empresa voltou com a produção e agora segue com 100% dos colaboradores ativos. Por meio de nota, a multinacional anunciou que tem seguido as medidas de prevenção indicadas pelas organizações médicas.
“As operações das fábricas da Samsung no Brasil foram retomadas em esquema de revezamento de equipes. Seguindo as orientações e especificações das autoridades da área da Saúde, uma série de medidas preventivas para evitar aglomerações e proteger nossos colaboradores seguem implementadas, como a medição de temperatura e o cumprimento da distância mínima recomendada entre os funcionários”, informou por meio de nota.
A Transire Eletrônicos, com seus 2,2 mil funcionários, também estava parada desde o dia 25 de março, e na primeira semana de abril já anunciou retorno das atividades. O presidente da empresa, Gilberto Novaes, informou em reportagem anterior do EM TEMPO, no início do mês, que estava se baseando na conduta de empresas chinesas para assegurar um ambiente seguro e controlado para os funcionários.
A companhia adotou medidas como divisão de jornada de trabalho em dois turnos, transporte próprio com equipamentos de proteção individual (EPI) e também a concessão de três refeições diariamente para os colaboradores.
Pico da pandemia
No início deste mês de abril, o Ministério da Saúde publicou uma pesquisa que aponta o pico de casos de coronavírus para abril e maio, no Amazonas. Cientistas do Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Amazonas e Distrito Federal participaram do estudo. O texto foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
No dia 6 de abril, em live no Facebook do governo do Estado, a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Rosemary Pinto, também disse que o Amazonas já está no pico da pandemia, que deve se estender até a segunda semana de maio.
Segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas, o Estado tinha, até esta quarta-feira, mais 190 casos confirmados da Covid-19. O total somava 2.479. As mortes saltaram de 193 para 206. No entanto, dada alta quantidade de subnotificações, a realidade é bem maior para os dois números, como mostrou uma reportagem do EM TEMPO. Nela, é apresentado um estudo que mostra que o Amazonas tinha mais de 39 mil casos de Covid-19, até o dia 11 de abril.
Até o fechamento desta edição, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Amazonas (Sindmetal-AM) e a Associação Nacional das Indústrias de Eletroeletrônicos (Eletros), não responderam as demandas da reportagem sobre o retorno das atividades produtivas no PIM, em meio a pandemia descontrolada em Manaus.