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Tragédia no Pantanal: Queda de aeronave ceifa vida de renomado arquiteto chinês e cineastas brasileiros

Uma tragédia aérea no coração do Pantanal sul-mato-grossense interrompeu abruptamente um projeto cinematográfico inovador e tirou a vida de quatro profissionais de diferentes áreas na noite desta terça-feira (23). O acidente, ocorrido na região da Fazenda Barra Mansa, próximo a Aquidauana, resultou na morte do arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu, mundialmente reconhecido por revolucionar o conceito de sustentabilidade urbana, além de dois documentaristas brasileiros e o piloto da aeronave.

Visionário das cidades sustentáveis perde a vida em projeto brasileiro

Kongjian Yu, de 61 anos, era considerado uma das mentes mais brilhantes da arquitetura paisagística contemporânea. Criador do conceito das “cidades-esponja” – um sistema urbano que utiliza soluções baseadas na natureza para absorver e gerenciar águas pluviais -, o arquiteto chinês tinha suas ideias implementadas em dezenas de países e havia sido laureado com os mais prestigiosos prêmios internacionais da área.

Autor de mais de 20 livros e 300 artigos científicos, Yu estava no Brasil desenvolvendo um documentário sobre suas teorias urbanas sustentáveis ao lado do cineasta brasileiro Luiz Fernando Ferraz. O projeto promitia apresentar ao público brasileiro as soluções que já transformaram cidades na China, Estados Unidos e Europa, oferecendo alternativas para os crescentes problemas de enchentes e gestão hídrica urbana.

Cinema brasileiro perde talentos em ascensão

Luiz Fernando Ferraz, diretor com trajetória consolidada desde 2007 na produtora Olé Produções, destacava-se por buscar linguagens documentais inovadoras. Sua obra mais recente de maior repercussão foi a série “Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia”, indicada ao Emmy Internacional e produzida para HBO/WBD. O documentarista também dirigiu “To Win or To Win”, sobre o time Al Nassr FC, e “Paisagem Concreta”, dedicado ao arquiteto português Álvaro Siza.

Junto a Ferraz, perdeu a vida o documentarista paulista Rubens Crispim Jr., formado em artes plásticas pela USP e especializado em fotografia. Com mais de uma década de atuação no audiovisual, Crispim participou do Festival de Cannes em 2009 com o curta-metragem “O Que Escolhemos” e havia vencido o reality “Projeto 48”, do canal TNT, em 2006.

Piloto experiente não conseguiu evitar tragédia

Marcelo Pereira de Barros, piloto e proprietário da aeronave Cessna, completava o grupo de vítimas. O avião explodiu após o impacto, carbonizando todos os corpos e dificultando o trabalho das equipes de resgate do Corpo de Bombeiros, que enfrentaram desafios adicionais devido ao difícil acesso à região pantaneira.

Investigação em andamento

As circunstâncias que levaram à queda da aeronave permanecem um mistério. O Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) iniciou as investigações preliminares, que posteriormente devem envolver órgãos especializados em acidentes aeronáuticos.

O acidente representa não apenas uma perda humana irreparável, mas também o fim abrupto de um projeto que poderia ter impacto significativo na discussão sobre sustentabilidade urbana no Brasil. A colaboração entre o visionário chinês e os talentosos documentaristas brasileiros prometia levar ao público nacional conceitos revolucionários de planejamento urbano, numa época em que cidades brasileiras enfrentam crescentes desafios climáticos e de infraestrutura.

A tragédia ressalta a fragilidade da vida e como projetos ambiciosos e necessários podem ser interrompidos de forma súbita, deixando um vazio tanto no meio artístico quanto no campo da inovação urbana sustentável.

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