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Tarifas de Trump não terão impacto na Zona Franca de Manaus

Representantes do setor produtivo do Amazonas reiteraram que a Zona Franca de Manaus (ZFM) não irá sofrer impactos diretos com as tarifas de Donald Trump, detalhadas nessa quarta-feira (30) e previstas para entrar em vigor na próxima semana.

Em entrevista à TV A Crítica, o secretário Serafim Corrêa ressaltou que o Polo Industrial de Manaus (PIM), no último ano, exportou 99 milhões de dólares para os Estados Unidos, um percentual menos que 1% das exportações totais feitas pelo PIM. No mercado interno, as vendas ficaram na ordem de 37,5 bilhões de dólares.

“A Zona Franca de Manaus está a todo vapor. Para se ter uma ideia: nos primeiros seis meses do ano, o polo de Duas Rodas fabricou 1 milhão de motocicletas. Ninguém fabrica 1 milhão de motocicletas impunemente. Nós levamos dez anos para produzir 1 milhão e agora, em seis meses, produzimos e vendemos 1 milhão. Vivemos um momento muito bom, a economia está aquecida”, disse.

A fala do titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) ocorreu num contexto de rebater informações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que estimou um impacto de R$ 1,1 bilhão no Produto Interno Bruto do Amazonas (PIB) com as tarifas de Donald Trump.

A instituição, posteriormente, se corrigiu e revisou os dados: o impacto projetado no PIB amazonense será de até R$ 1,1 milhão, sendo o estado menos afetado do Brasil com as taxações norte-americanas.

Procurado por A CRÍTICA, Serafim Corrêa destacou novamente que o PIM é focado no mercado interno, não em exportação. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Amazonas exportou 970,4 milhões de dólares em 2024.

“Portanto, é insignificante a nossa dependência em relação aos Estados Unidos. Ao contrário, nós compramos muito mais do que vendemos para eles. Compramos componentes que aqui são processados, viram produto final e [são] vendidos para o mercado interno. Nós não sofreremos nenhum abalo com isso que foi feito contra o Brasil e que nós repudiamos por óbvio”, destacou.

Impacto pontual

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, ressaltou que a lista de exceções promulgada pelos Estados Unidos tem quase 700 produtos, com alguns fazendo parte do rol de vendas do Amazonas como castanha-do-pará e madeira. Segundo ele, “em linhas gerais, o impacto deve ser sentido de maneira pontual”.

“A dinâmica do modelo Zona Franca de Manaus está alicerçada sobre o mercado nacional, embora as exportações tenham crescido nos últimos anos. Dessa forma, entendo que há margem para novas negociações ou absorção dos produtos pelo próprio mercado nacional”, disse.

O presidente esclareceu ainda que o tarifaço não deve causar efeitos significativos no Polo Industrial de Manaus, com um impacto bastante limitado, já que a ZFM exporta apenas 1,5% de seu faturamento e, desse percentual, menos de 10% tem como destino o mercado americano.

“Isso significa que apenas 0,15% do faturamento da Zona Franca estaria sujeito às novas tarifas. Trata-se, portanto, de um efeito marginal. A maior parte da produção do nosso modelo destina-se ao mercado interno, o que reduz significativamente a medida do impacto anunciado. Além disso, a balança comercial entre a Zona Franca e os EUA é amplamente favorável aos americanos”, explicou.

O presidente executivo do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Lúcio Flávio de Oliveira, frisou que, dos 27 estados brasileiros, o Amazonas é o 16º que mais exporta para os EUA e que o total de exportações “é economicamente pouco expressivo perto do faturamento total do PIM”.

“Dentro desses quase 100 milhões de dólares, há uma pauta muito diversificada, sendo o principal item as motocicletas de alta cilindrada. Cabe destacar que os desafios para exportação são enormes e qualquer perda representa retrocesso independente do seu tamanho”, disse.

Lúcio Flávio elenca ainda uma pauta importante de itens como nafta, exportado diretamente de Urucu, em Coari, além de querosene de aviação e madeira, três itens inicialmente parte da lista de exceções divulgada pela Casa Branca nessa quinta-feira.

“O maior impacto é no mercado consumidor brasileiro. O que o Brasil deixar de exportar aos EUA, como café e carnes, serão dólares que deixarão de entrar no Brasil e deixarão de compor a renda do brasileiro. Também não é o principal, visto que nosso maior destino de exportações é a China, mas é algo que poderá fazer diferença na demanda pelos produtos do PIM na medida em que ela atende o mercado interno brasileiro. É um impacto indireto e difícil de mensurar”, concluiu.

Lista de itens

O superintendente da Zona Franca de Manaus (Suframa), Bosco Saraiva, disponibilizou a lista dos dez itens que mais foram exportados para os Estados Unidos desde janeiro até agora em 2025. Segundo ele, o impacto “segue inexpressivo”.

Na lista de exportações do Amazonas, lideram as motocicletas de cilindrada superior a 125, com mais de 10,4 milhões de dólares vendidos em produtos. Na sequência vem distribuidores automáticos de papel-moeda (6,5 milhões), rodas dentadas e outros órgãos de transmissão (4,5 milhões), lentes de outras matérias para óculos (3,4 milhões).

Fazem parte dos dez mais vendidos ainda: madeiras tropicais serradas (1,93 milhão), querosene de aviação (1,46 milhão), motocicletas com cilindrada inferior ou igual a 125 (1,3 milhão), outras preparações para elaboração de bebidas (927,6 mil), castanhas-do-pará (772,8 mil) e cartas de jogar (541,7 mil).

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