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Brasil e França lançam 20 bolsas de doutorado exclusivas para estudantes indígenas

A partir de novembro, alunos indígenas de todo o Brasil poderão concorrer a novas bolsas de doutorado na França. Cerca de 20 bolsas de estudo foram viabilizadas por meio de um acordo de cooperação assinado na tarde desta segunda-feira (27), em Manaus, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pela Embaixada da França no Brasil.

O acordo amplia o Programa Guatá – Mobilidade de Discentes Indígenas, iniciado em 2023, que agora passa a contar com o apoio direto do Ministério da Educação (MEC) e da Capes. Durante a cerimônia de assinatura, realizada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), na zona sul da capital amazonense, o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, destacou os desafios da implementação e a relevância da iniciativa.

“Alunos doutorandos foram acolhidos na França e retornaram com projetos de colaboração, pesquisas conjuntas e publicações em parceria, representando a promessa de uma ciência mais inclusiva e representativa. Este programa não foi simples de implementar — foi necessário superar desafios logísticos, linguísticos e culturais —, mas ele se apoiou em uma rede de parceiros excepcionais, tanto da França quanto do Brasil”, afirmou Lenain.

Alícia Patrine, indígena do povo Kokama e biomédica de formação, participou da primeira edição do programa, cursando parte do doutorado na França. Ela conta que a experiência ampliou sua visão sobre a integração entre os saberes tradicionais e científicos.

“Esse intercâmbio me fez entender que o nosso conhecimento também precisa ser validado, que tem o mesmo valor científico. Lá, tive contato com a antropologia e com o pensamento de vários pesquisadores, entre eles Paulo Freire, que, inclusive, eles admiram muito. Aprendi a valorizar mais o diálogo entre o conhecimento biomédico e o indígena”, relatou.

Alícia Patrine, indígena do povo Kokama e biomédica de formação

O secretário-executivo adjunto do MEC, Rodolfo Cabral, destacou que o programa é mais um exemplo da importância da cooperação internacional e da troca de saberes.

“O Brasil está semeando uma relação muito profícua de cooperação. Agora estamos levando nossos estudantes indígenas para ter essa experiência no exterior, levando nossa cultura para lá e trazendo novos aprendizados para cá. É um jogo de ganha-ganha: eles aprendem com a gente, e nós com eles”, destacou.

A presidente da Capes, Denise Carvalho, explicou que o programa começou como uma iniciativa da Embaixada da França em 2023 e que, a partir de agora, a Capes passa a atuar como parceira na acolhida dos alunos e na ampliação das bolsas.

“Nem todas as instituições na França têm alojamento para os estudantes. A Casa do Brasil, sob responsabilidade da Capes, vai ajudar nesse acolhimento. Queremos também aumentar o número de bolsas em 2026, com atenção especial à região Norte, onde há o maior número de doutorandos indígenas do país”, disse.

Com investimento estimado em R$ 1,7 milhão, o programa vai financiar mensalidades, auxílio de instalação e deslocamento, adicional de localidade e seguro-saúde. Serão concedidas até 20 bolsas de doutorado sanduíche, com duração de até nove meses. As instituições brasileiras parceiras deverão apoiar os bolsistas com bolsa mensal de R$ 7 mil.

O edital completo e as informações sobre as inscrições estarão disponíveis nos sites da Capes e da Embaixada da França no Brasil a partir de novembro.

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