Amazonas já é o segundo estado com mais desmatamento em 2025
O Amazonas, historicamente o quarto estado com maior índice de desmatamento ilegal no país, subiu para a segunda posição no ranking de alertas de desmatamento registrados entre janeiro e maio deste ano. Foram 302 km² degradados em cinco meses, o equivalente a 28 mil campos de futebol. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No primeiro trimestre deste ano, o desmatamento no Amazonas permaneceu em patamares relativamente baixos, com pico de 18,51 km² em março. A partir de abril, no entanto, os números dispararam: a área sob alerta saltou para 113,63 km², o que representa um aumento de 513,9% em relação ao mês anterior. Em maio, o avanço continuou, com o desmatamento alcançando 142,63 km², um acréscimo de 25,5% em relação a abril.
Os dados do Inpe apontam ainda que o aumento do desmatamento atingiu toda a Amazônia Legal. Somente em maio deste ano, foram 960,3 km² degradados, um aumento de 91,24 na comparação com abril. Quando considerados os cinco primeiros meses de 2025, o aumento no desmatamento é de 38,03% em relação ao mesmo período de 2024.
Presidente do Fórum Permanente de Secretários Municipais de Meio Ambiente do Amazonas (Fopes), Olavo de Angiolis diz que falta integração dos governos federal, estadual e municipal para atuar conjuntamente contra o problema.
“Essa é uma pauta que precisa ser intensificada. Estamos correndo em um mesmo sentido, mas há uma necessidade grande de trilharmos esse caminho de uma forma que venha a solucionar o problema”, avalia.
A falta de integração entre as esferas é um problema antigo que afeta o planejamento da política ambiental e a atuação em campo, quando não raramente faltam pessoal e equipamentos para combater os crimes ambientais, especialmente em municípios mais distantes dos grandes centros.
Outra defesa de Angiolis é que os recursos para o combate aos crimes ambientais deveriam ser melhor distribuídos, com destaque para as prefeituras. Isso porque, na visão dele, as gestões municipais recebem o peso da cobrança mesmo sem terem recursos suficientes para agir.
“Sem recurso, dificilmente a gente consegue fazer alguma coisa. O nosso Fórum está trabalhando muito quanto na conscientização dentro das Câmaras dos municípios para que no orçamento das prefeituras seja colocado um recurso para trabalhar melhor na área ambiental”, diz.
Educação ambiental
Para o presidente do Fopes, que também é secretário de meio ambiente de Presidente Figueiredo, na região metropolitana, o poder público ainda não conseguiu atuar com maior eficácia na educação ambiental, outro problema que relaciona à alta do desmatamento.
Ele explica haver uma cultura no Amazonas de uso da terra, especialmente no caso dos produtores rurais, que ainda utiliza o desmatamento e a queimada ilegal anualmente.
“Há uma cultura dos produtores rurais com menor poder aquisitivo e que, infelizmente, estão à margem da legislação. Isso porque, até para conseguir licenciamentos, é difícil. O Ipaam fica na capital e temos municípios com mais de mil quilômetros de distância.
Estamos em um trabalho com o Conselho Estadual de Meio Ambiente e com a Associação de Municípios para tentar mudar isso”, afirma.
“Temos que trabalhar a consciência do povo. Aqui em Presidente Figueiredo, estamos criando um Departamento de Educação Ambiental para levarmos essa pauta para dentro da sala de aula, desde a creche até o nível mais alto. A nossa geração comprometeu o meio ambiente, e papagaio velho não aprende a falar. Mas nós ainda podemos conscientizar muito a geração mais nova”, complementa.
Alguns projetos já existem nesse sentido, mas o secretário entende que é preciso fazer mais. Um exemplo é o programa Agentes Ambientais Voluntários (AAV), que forma lideranças em unidades de conservação e outra áreas prioritárias do estado. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema), que lidera o projeto, diz que mais de 2,3 mil foram formados desde 2008.
Queda não vingou
Embora o desmatamento tenha voltado a crescer no Amazonas em 2025, os números ainda estão abaixo dos recordes registrados durante os governos Bolsonaro, em nível federal, e Wilson Lima, no plano estadual. O pico ocorreu em 2022, quando os alertas de desmatamento somaram 835 km² nos cinco primeiros meses do ano.
Em 2023, primeiro ano da gestão Lula e do segundo mandato de Wilson Lima, a área desmatada caiu para 424 km², recuando ainda mais em 2024, para 233 km². Em 2025, no entanto, os alertas voltaram a subir, indicando uma possível reversão na tendência de queda.
Para o presidente do Fopes, porém, essa variação não está associada a uma piora do combate ao desmatamento, mas sim ao movimento da própria cultura de desflorestação para a produção rural.
“Essa subida e descida acontece porque o pequeno produtor rural trabalha com um ou dois hectares, em média. Ele consegue trabalhar por cerca de dois anos nessa terra e depois passa para outra. É esse período de uso da terra, e depois de mais desmatamento em uma nova área que se reflete nos dados”, explica.
Investimentos
No último dia 3 de junho, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) anunciaram o maior apoio financeiro já realizado na história do Fundo Amazônia. Serão R$ 825,7 milhões destinados ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para execução do projeto FORTFISC – Fortalecimento da Fiscalização Ambiental para o Controle do Desmatamento Ilegal na Amazônia.
Com prazo de execução de 60 meses, o FORTFISC busca ampliar a presença do Estado na Amazônia Legal e modernizar a resposta ao desmatamento ilegal. Serão investidos recursos na compra de helicópteros de grande porte com proteção balística, drones de alta tecnologia e a construção de bases aéreas e helipontos estratégicos na floresta.
O projeto também inclui a instalação de centro de treinamento, bases móveis de fiscalização, depósitos para bens apreendidos e novos sistemas digitais para monitoramento ambiental e aplicação de sanções. A iniciativa contempla ainda o uso de inteligência artificial para autuação remota e o fortalecimento da gestão institucional do Ibama, garantindo mais eficiência, segurança e alcance às ações de comando e controle.
Ação estadual
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para obter informações sobre a atuação contra o desmatamento na região, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. No ano passado, a operação Tamoiotatá, de combate a crimes ambientais, somou 17.453 quilômetros percorridos no estado, com R$ 184 milhões em 187 autos de infração lavrados. Também houve 351 embargos e 40 apreensões.