Amazonas será representado por 20 indígenas na COP 30
Processo de seleção ocorreu em Manaus durante o último dia do Ciclo COParente, promovido pelo MPI
Vinte representantes indígenas foram escolhidos para representar o Amazonas na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em 2025, em Belém (PA). A seleção ocorreu no sábado (20), durante a 13ª etapa do Ciclo COParente, promovido pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) em parceria com a Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Estado do Amazonas (APIAM), no Centro de Formação Xare, em Manaus.
A escolha seguiu a divisão territorial do estado a partir das calhas dos principais rios: o Alto, Médio e Baixo Rio Negro; Baixo Amazonas; Baixo Madeira; Manaus e entorno; Alto e Médio Solimões; Vale do Javari; Alto e Médio Madeira; e Purus — cada um terá três representantes, exceto o Juruá, que contará com dois. Também foram eleitos representantes por setores específicos: mulheres (2), juventude (1), anciãos e anciãs (1) e educação (1). A APIAM, fundada em 2022 e integrante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), também garantiu um assento.
Segundo a coordenadora da APIAM, Maria Baré, a COP30 representa uma oportunidade para levar as demandas e estratégias dos povos indígenas à pauta internacional.
— Queremos chamar a atenção do mundo e da sociedade para nossa campanha. A resposta para a crise climática somos nós, que cuidamos da biodiversidade em nossos territórios. Defendemos a criação de um fundo de financiamento direto para fortalecer o trabalho dos povos indígenas — afirmou.
Demandas prioritárias
Entre as reivindicações apresentadas, estão o financiamento direto para iniciativas indígenas, apoio à produção sustentável, implementação de políticas públicas voltadas tanto para comunidades em áreas rurais quanto para indígenas em contexto urbano, avanço nos processos de demarcação de terras e elaboração de Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs).
Maria Baré destacou ainda a necessidade de melhorar serviços básicos como saúde, educação, saneamento e acesso à água potável:
— Estamos no maior manancial de água doce do mundo, mas a água disponível não é ideal para consumo humano. Precisamos de condições dignas para permanecer em nossos territórios e evitar o êxodo para as cidades — disse.
Dados do IBGE indicam que o Amazonas concentra cerca de 500 mil indígenas, incluindo 75 mil em Manaus — o maior contingente do país. Ao todo, existem 347 territórios reconhecidos ou em processo de reconhecimento no estado, sendo que 187 reivindicações permanecem paradas.
Desafios da FUNAI
O coordenador regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) em Manaus afirmou que o órgão enfrenta um grande volume de demandas represadas e problemas como mineração ilegal, narcotráfico, extração de madeira e tráfico de animais em terras indígenas.
A Coordenação Regional de Manaus é uma das maiores do Brasil, atendendo 230 mil indígenas em 30 municípios de três estados (Amazonas, Pará e Roraima). A unidade atua com fiscalizações, emissão de documentos, incentivo a atividades sustentáveis e apoio na criação de PGTAs.
Mobilização
O evento em Manaus reuniu lideranças de diversas organizações indígenas, como a Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas (Makira E’ta), a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), entre outras. Antes da etapa na capital, o Ciclo COParente já havia sido realizado em Lábrea e São Gabriel da Cachoeira.
A expectativa das lideranças é que a presença na COP30 fortaleça a articulação dos povos indígenas do Amazonas em nível global e dê maior visibilidade às suas demandas, especialmente no que diz respeito à proteção territorial e ao enfrentamento da crise climática.