Linha do terror: assaltos constantes na linha de ônibus 652 preocupam usuários
Medo, insegurança, impotência e revolta. Estas são algumas das sensações diárias descritas por passageiros e condutores do ônibus da linha 652, em Manaus. O transporte coletivo, que faz o trajeto entre os terminais 4, 5 e 1, tem sido alvo de constantes assaltos, ocorridos em intervalos cada vez menores.
Os trechos em que os assaltos são anunciados e a rota de fuga dos criminosos também já são conhecidos. Somente este mês, houve o registro de três assaltos em trechos, horários e pontos de fuga semelhantes.
Na rota usual, em um dos trechos, o ônibus passa pela avenida Ephigênio Salles, bairro Aleixo, Zona Centro-Sul, seguindo em direção ao bairro Coroado, na Zona Leste. É neste trecho que os assaltantes costumam agir, obrigando o motorista a desviar a rota para o bairro Japiim, na Zona Sul, onde eles fogem em direção a uma área de mata próxima à Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), no bairro Japiim.
Um motorista da linha 652, de 47 anos, que preferiu não se identificar, conta que já presenciou até mesmo a morte de um passageiro que tentou reagir a um assalto dentro do ônibus. Ele, que trabalha como motorista de ônibus há 20 anos, afirma que a única esperança no fim do dia é chegar em casa bem.
“Todo dia a gente está aqui e, assim como o passageiro grava a nossa fisionomia, o bandido também grava. Já vi passageiro ser morto do meu lado, colegas de trabalho serem furados por quererem ser heróis. Eu só quero chegar em casa bem, daqui a 10 anos eu termino a minha contribuição. A polícia prende e a justiça solta. Eu vou me expor? Vou nada”, disse o motorista, que afirmou já ter perdido a esperança de que a situação melhore.
O agente de portaria, Gean Xavier, de 32 anos, usa a linha de ônibus todos os dias para ir ao trabalho e afirma que a sensação de insegurança é constante. Ele mesmo já presenciou um assalto ao ônibus. Para ele, nenhuma solução efetiva é feita pelas autoridades e equipes de segurança pública.
“A gente se sente refém de uma situação que é constante e a gente não vê ninguém fazer nada, não há uma solução, os nossos governantes simplesmente deixam como está, e é complicado, porque é constante e a gente não vê uma melhoria em nenhum aspecto”, disse.
“Acho que é necessário a gente pensar em estratégias, principalmente em termos de segurança, colocar rondas nos ônibus, como também em pontos estratégicos. Se a gente sabe que tem um lugar que é rota de fuga, por que não colocar segurança nesses pontos estratégicos? Aí fica o questionamento, porque a gente vê que não é feito absolutamente nada. As estatísticas estão aí, mas não é feito absolutamente nada”, completou.
Diante das ondas de assaltos, há quem se sinta agradecido por ter escapado ileso de alguns episódios. É o caso do vigilante José Pinheiro, de 57 anos, que já presenciou dois assaltos enquanto usava o transporte coletivo. Ele conta que, nos dois episódios, os assaltantes agiram de forma rápida e tiveram como alvo apenas a verba do coletivo.
“Já aconteceu comigo. Já vi dois assaltos dentro de ônibus, mas das duas vezes não mexeram com os passageiros, só levaram a renda do ônibus e, no outro, o celular do cobrador. Foi tudo muito rápido. Mas não é fácil não, a gente fica torcendo pra não mexerem com a gente. Graças a Deus, das duas vezes não mexeram com passageiro. Mas já vi falarem que, quando eles entram, tocam o terror e fazem a limpa, ninguém escapa”, disse o vigilante.
A história foi diferente para uma monitora de telemarketing, de 29 anos, que preferiu não se identificar. Ela conta que já perdeu as contas de quantas vezes foi assaltada e teve seus pertences pessoais, fruto de anos de trabalho, levados em segundos nas ações criminosas. Para ela, o sentimento é de revolta e impotência.
“Eles entraram dentro do ônibus armados, normalmente são quatro ou mais assaltantes e geralmente é nesses ônibus articulados. A gente sai para trabalhar e vem um vagabundo e te rouba, com uma arma. A gente se sente humilhada, impotente. Tem condições para ir de outro transporte? Não tem”, disse a passageira, que usa a linha 652 diariamente para ir ao trabalho.
O último assalto registrado na linha de ônibus ocorreu na quinta-feira (18), quando quatro assaltantes armados com armas brancas e de fogo obrigaram os passageiros a entregar seus pertences sob a ameaça de morte. Um dia antes, na quarta-feira (17), o ônibus também foi alvo de assalto, e imagens circularam nas redes sociais, apenas 15 dias após a última ação criminosa, ocorrida no dia 2 deste mês, quando pelo menos três pessoas ficaram feridas.
A reportagem já procurou a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) para informar sobre as medidas usadas para conter os assaltos, mas ainda não onteve respostas.